Por Conceição Nobre(nº9)
Os recados são sempre passados repassados como sonhos.
Mundofreudiano, lugar onde o inconsciente se desvela...
Os recados são sempre passados repassados como sonhos.
Tenho sentido muita vontade de escrever. Os textos aparecem na minha imaginação como se eu já os tivesse escrito. Na verdade fazem parte de uma escritura antiga que me é familiar. O modelo é a análise e se desenrola a partir de um fato que em seguida se repete na análise.
Uma cena particularmente importante: somos quatro pessoas. Duas compartilham comigo o início das atividades de um novo projeto. De quem é o desejo que movimenta os acontecimentos?
Ontem assistindo à televisão, um professor de Cabala disse que a mente precisa descansar porque estamos bombardeados de informações por todos os lados. Se isso é possível, eu não sei porque a minha não consegue. Estar sob análise, participar do Mundofreudiano, estudar, sonhar... Andei fugindo disso descuidadosamente. Do trabalho, se é que aquilo é trabalho, sumi. Estou em iminência de acabar com o tratamento químico ao qual venho me submetendo há sete meses. Submetendo... não escolhi tomar todas essas drogas, apenas desacreditei de qualquer coisa que pudesse me tirar do lugar... eu não conseguia sair do lugar. Vejo um progresso: de 20mg estou em 8mg. Não sinto mais os maus efeitos da droga, mas também deixei de sentir os bons. Acho que a única coisa que ela tem feito é segurar a minha vontade de chorar. Como ouvi: saio do alento, entro no desalento, e vice-versa. Saio do lugar, volto para o mesmo lugar. Fico parada. Me convoco a despertar. Isso não é brincadeira, menina... É tudo responsabilidade minha. Eu não consigo explicar uma inquietação que vem. O sexo não basta para passar isso. E eu tentando me enganar...
Mariana MagalhãesFiquei perguntando, O QUE É O MUNDO FREUDIANO? Há um tempo reservado ou ele atravessa todo o grupo nos encontros? Para mim estudar psicanálise é um constante mundo freudiano, é se reconhecer na teoria, não por patologia mas por humanidade pois acho que o que o pai da psicanálise fez foi estudar as questões humanas, principalmente em sua subjetividade e sendo subjetiva é tb ampla, sendo assim acho impossível não identificar-me. Penso nisso hoje, sexta-feira, pelo que observei ontem no grupo. Me parece que o mundo freudiano não teve tempo determinado pois esteve presente desde o início, todos falamos em 1º pessoa . pensei que o capítulo da droga mágica provocou questões pessoais e se o tema tem haver com o que aconteceu quinta, acho que é porque usando uma droga Freud talvez fique mais próximo de nós. O que também me faz pensar na figura do analista, me pergunto porque tanta idealização em sua imagem , se o que ele fez foi estudar a psicanálise que é uma teoria do humano. Cujo pai, Freud teve para mim o mais admirável, a capacidade reconhecer erros e voltar em sua teoria, deixando tudo registrado. Por isso acredito que identificação com a teoria venha da possibilidade de nela poder me reconhecer no erro e se reconhecer no erro é mais sincero. (no original outro trecho se encaixa a partir do humano o que seria o texto na íntegra, sua exclusão e acréscimo do azul foi por conta da resistência na releitura no Mundofreudiano, hoje possível de entender). Se pretendo ser analista, ou seguir sendo, não é imagem executiva de uma sala elegante em um edifício comercial ou a imagem pedagógica de responder a questões da teoria que me dará este “poder”, poder, pensando na frase que diz que “é analista quem pode”. Os requisitos para a função não são adquiridos externamente, mas internamente e aceitando o que há de mais humano, que são os erros. Talvez por isso a paixão dos Psis por Freud, pois acho admirável sua capacidade de reconhecer erros e voltar em sua teoria. Talvez a identificação com relação a teoria seja porque nela possamos nos reconhecer no erro e se reconhecer no erro é mais sincero.
Íris FerrazQuestão entre comadres a ser resolvida. Questão seríssima, dinheiro. Andei prorrogando, sem preocupação, porque, feliz ou infelizmente, eu não consigo dar ao dinheiro o valor que talvez ele mereça. Pensando bem, a palavra é infelizmente, mas esse não é o motivo pelo qual escrevo. Estive com toda determinação de montar um barraco, dizer coisas, falar de decepção, de injustiça, de cobrar, estraçalhar. Com certeza, com de costume, me transformaria num animal, ofegando, tremendo, gritando. Enfim, tive meio que uma sessão de análise (na qual eu fui a cortante! Olhem só. Ela disse que estou sabendo a duração da sessão pedindo o corte, e ele me deixou cortar! Só me dei conta depois de ter levantado da cadeira... Fiquei esperando o corte, eu estava atrasada, não era meu direito estar ali). Voltando à sessão informal, e com portas abertas! Falei da minha raiva quando pensava em resolver a questão de comadres. Ela: “tire a raiva.” Foi simples assim, tire a raiva e resolva o seu problema. Telefonei compulsivamente para a comadre ainda a fim de arrebentar a boca do balão. Não consegui, resolvi relaxar. Às 22h o telefone toca - a comadre. Entre várias colocações, recebendo muitas vezes o meu silêncio como resposta (afinal, eu estava tentando tirar a minha raiva), ela se justifica, colocando por si mesma o prazo para o pagamento. Eu: “Então, sexta-feira que vem, da outra semana.” Ela carregava o sotaque carioca, como eu bem conheço. Pensei: está encenando. Como é difícil enganar essa aspirante à psicanalista! (Estou rindo muito agora disso tudo). Ela: “Sim, sexta quem vem... Você deve estar retada. Mas você merece uma justificativa.” Eu: “Se você quiser dar a justificativa, tudo bem, mas não é do meu desejo ouvi-la. Eu só quero saber se é esse mesmo o prazo e se você vai cumpri-lo”. Ela ficou em silêncio. Eu dei o corte. E o que é melhor, retirei a raiva. Agora é só aguardar o resultado.
Mariana MagalhãesA notícia da morte de uma tia, sábado passado, fez lembrar a morte de meu avô e com isso outras perdas, como o da convivência com meu pai. Na morte de meu avô, Ronaldo o filho dessa minha tia, que na verdade é irmã de minha vó, estava casado com minha mãe e foi quem prestou socorro e deu toda assistência, mesmo tendo visto o pai morrer da mesma forma e ter desejado não mais viver tal experiência. Após a separação com minha mãe ele voltou para São Paulo e por coincidência, na morte de sua mãe, minha mãe estava lá. Agradeço a feliz coincidência, sou grata pelo que fez no momento de prestar socorro a meu avô, eu não soube o que fazer, não conseguia ter uma atitude, fiquei assustada com a cena. Desde então não consigo prestar socorro, nem ver sangue.
Na semana retrasada minha vó me liga assustada, pedindo para prestar socorro ao seu cachorro que tinha engolido veneno. Fui mas rezei para que já tivessem levado quando eu chegasse, isso não aconteceu e de qualquer forma me deu possibilidade de viver a situação enxergando possibilidades.
Pra completar as associações, na semana passada, um grande amigo propôs me vender seu carro, fazendo uma troca pelo meu, única possibilidade de trocar meu carro no momento. Precisei pedir ajuda a minha vó, ela deu o aval mas logo depois tenta me convencer do contrário. Entendi porque todas as vezes que tentei trocar o carro nunca deu certo. Era o carro que meu avô me deu e ela nunca quis se desfazer e de alguma forma eu contribui.
Íris FerrazFoi quando percebi que toda a ação do outro me influencia(va).
Como se sempre sumia um pouquinho quando alguém aparecia
Como sola e lua brincava de esconde-esconde com o mundo.
O grito!
A descida da gangorra me deixa à mercê.
Eu sou.
Lembrei que nunca havia conseguido cantar com outra pessoa porque desafinava o tom.
E naquela tarde eu e Gal cantamos muito.
Daniella de AguiarDuas séries de sonhos marcam, no decorrer de minha análise, os caminhos da autorização. Na primeira série, dirijo um carro, encontro uma blitz. Estou sem documentos. O sonho do aeroporto faz parte desta série. Na segunda série, divido espaços com minha analista. Na sala de atendimento, em um imenso colchão, tomando‑lhe a cadeira.